Logo O POVO+
Transmissão de zika por muriçoca pode explicar epidemia no Nordeste
Brasil

Transmissão de zika por muriçoca pode explicar epidemia no Nordeste

FioCruz descobriu que vírus consegue alcançar glândula salivar do animal, o que indicaria que o pernilongo pode ser um dos transmissores da zika
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

A descoberta feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, de que a muriçoca - ou pernilongo - é capaz de transmitir o vírus zika, pode ajudar a compreender porque a epidemia foi mais grave em algumas regiões do País, ou porque há mais casos de microcefalia em bebês de mulheres de baixa renda. Isso porque o Culex, nome científico do gênero do mosquito, se reproduz em água extremamente poluída, comum onde não há saneamento básico. Mas, para isso, os pesquisadores afirmam que ainda é preciso estabelecer qual a importância do inseto como vetor da doença.


No artigo publicado ontem em uma revista científica do grupo Nature, os pesquisadores descrevem a descoberta de muriçocas infectadas na natureza e a comprovação de que o zika se reproduz dentro dos mosquitos, chegando à glândula salivar dos insetos. O vírus também está presente na saliva extraída dos espécimes, tanto os infectados em laboratório como os contaminados em ambiente natural.


O próximo passo é estudar características biológicas do Culex. Questões ambientais como a temperatura e umidade do local também são levadas em conta, segundo a pesquisadora da Fiocruz Constância Ayres.


“Precisamos entender qual o papel dele na transmissão, se ele é um vetor secundário, se é primário ou se não tem importância nenhuma. Isso vai depender de outros aspectos biológicos que são característicos dessa espécie, como a longevidade, a abundância em campo, a preferência de se alimentar com o ser humano. A gente precisa investigar isso dentro do contexto urbano onde está a epidemia e comparar essas características com a espécie que é hoje considerada o principal vetor, que é o Aedes aegypti”, disse.


Caso a muriçoca seja estabelecido como vetor importante, esse fato pode explicar a ocorrência de mais casos na região Nordeste, por exemplo, ou a relação de áreas sem esgotamento sanitário com a quantidade de infecções. Ayres recorda que foi no Nordeste que surgiram os primeiros casos de microcefalia causados pela zika. Então, o fato da população de outras regiões já saberem sobre o perigo, e fazerem prevenção, influencia a disparidade, mas a falta de saneamento pode ter ligação.


“De fato, aqui temos condições precárias que permitem a reprodução do vírus de forma muito intensa. A coleta do lixo, esgoto a céu aberto, inúmeros canais no Recife, que favorecem a replicação do mosquito”, afirma. “O Culex representa nossa falta de estrutura de saneamento básico”. (Agência Brasil)

 

Saiba mais


De população mais numerosa que o Aedes aegypti, o Culex poderia ser mais difícil de se controlar à primeira vista. Mas, para a pesquisadora, ocorre justamente o contrário. “A quantidade de criadouros do Aedes é infinita. Pode ser uma tampinha, um pneu, uma calha, piscina, caixa d'agua, então é impossível mapear todos os ambientes. E ele prefere água limpa. Mas o Culex prefere água extremamente poluída, que são os canais, esgotos, fossa. Você consegue mapear e tratar”, afirma.


Para chegar à conclusão que a muriçoca é capaz de transmitir zika, primeiro foi analisado em laboratório se o Culex poderia ter o vírus, ao alimentar os espécimes com sangue infectado. Isso foi constatado em mais de 200 mosquitos. Pela 1ª vez no mundo, pesquisadores conseguiram fotografar o vírus se reproduzindo dentro da glândula salivar dos pernilongos.

 

O que você achou desse conteúdo?